sexta-feira, 14 de maio de 2010

NÚCLEOS ROTARY DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO

“Nenhuma idéia é grande demais, nenhum plano é grandioso o suficiente”
– Frank J. Devlin, ex-Presidente do RI, 2000-01.


Quando assumimos a presidência do Rotary Club de São Paulo – Santo Amaro, sob a liderança do Presidente RI Richard King, fomos brindados com um lema instigante e desafiador: “A Humanidade é Nossa Missão”. Sucedia ele, então, ao não menos ilustre e sonhador, Presidente RI Frank Devlin, que, na passagem do milênio nos chamara à reflexão sobre os problemas sociais que enfrentamos e nos exortara a ter fé inabalável “no poder e visão do Rotary”.

Dois lideres, duas visões de futuro, dois homens preocupados e sonhadores, que vivem Rotary como o instrumento fundamental da realização da paz social e do bem estar de toda humanidade. Somos participantes desse ideal, pois somos rotarianos, e não podemos deixar de refletir sobre tais sentimentos e ações.

Esse poder e essa visão de Rotary foram apanágio de seu futuro já em sua fundação. De fato, quando Paul Harris fundou o Rotary, longe estava de supor que ao completar cem anos de existência, sua visão estivesse distribuída entre mais de um milhão de homens dedicados ao ideal de servir, com sólida reputação, em cerca de 160 países componentes da comunidade internacional.

Muito menos, ainda, que o poder que sua organização desenvolveu não se funda no ter ou no ser, mas, sim, no FAZER, a que se referiu o ilustre jurisconsulto Pontes de Miranda, quando afirmou que;”É importante ter e é importante ser. Mais importante, ainda, é fazer”. Por isso, o companheiro Carlos Henrique, do RC do Rio de Janeiro (D 4570) , transpôs para o Rotary essa frase: “É importante ser rotariano; é importante ter companheiros e amigos no clube, no distrito, no Brasil e no mundo; porém, MAIS IMPORTANTE, AINDA, É FAZER, isto é, promover, através de nossa atuação, a concretização dos ideais do Rotary em cada uma de suas Avenidas”.

Histórica, política e economicamente considerada a evolução da humanidade e das comunidades existentes, durante muito tempo responsabilizar o Estado pela solução de todos os problemas, era regra geral. Hoje, com um universo globalizado, altamente competitivo e desenvolvido teconologicamente, como lembra o companheiro Gustavo Alberto, também do RC do Rio de Janeiro , “o Estado moderno está revendo sua posição” na medida em que “se vê forçado a repassar para a iniciativa privada, diversas tarefas que, até então, estavam sob sua responsabilidade”.

Não nos cabe neste modesto trabalho, discutir os rumos do novo Estado nesse limiar do terceiro milênio, confrontando as teorias políticas pertinentes. Cabe-nos, sim, dizer que o Rotary, de acordo com sua visão e missão institucional, vem atuando, a margem do Estado, mas inserido no ordenamento jurídico internacional, apontando as formas como se pode realizar o bem coletivo, com seus instrumentos apropriados e um acendrado amor ao próximo.

Cabe-nos, pois, apontar a sociedade a forma como o Rotary pode ajudar a fazer, difundindo seu otimismo responsável e fincando a bandeira da paz, com uma visão de futuro fortalecida por esse poder de realização, já demonstrado através dos inúmeros programas executados, com o apoio de todas as organizações envolvidas no processo.

E entramos no objeto, propriamente dito, de nossa participação nesse mesmo processo: os chamados Núcleos Rotary de Desenvolvimento Comunitário, que surgiram como programa rotário por iniciativa do ex-Presidente RI Caparas, em 1.985, e foram devidamente oficializados em 1988. Trata-se de um programa da Avenida de Serviços à Comunidade que busca o envolvimento pessoal dos rotarianos com os problemas da comunidade, visando o encontro de soluções compartilhadas, de modo a oferecer a cada rotariano a oportunidade de "Dar de Si Antes de Pensar em Si", através da função e da responsabilidade social de cada um em melhorar a qualidade de vida dos membros de sua comunidade, servindo ao interesse público.

O propósito desse programa, portanto, é melhorar o padrão de vida individual e proporcionar bem-estar social encorajando os membros da comunidade a contribuir para o alcance desses objetivos dentro de um espírito de cooperação mútua.

Com esse propósito em mente, os rotarianos devem se envolver com a comunidade e com ela, incentivando e desenvolvendo um espírito de cooperação mútua, detectar quais os programas que devem ser considerados como tendentes a proporcionar-lhe bem-estar social, contribuindo para que se torne realidade através de um projeto que seja executado e administrado pela própria comunidade, mediante o patrocínio, orientação e apoio do clube.

A ação do Rotary, na consecução desse programa, num primeiro momento se inscreve dentre os objetivos fundamentais dos Serviços à Comunidade:
a) investigando as necessidades da comunidade, através de levantamentos e análise das circunstâncias específicas da mesma;
b) incentivando os sócios do clube a suplementar esses levantamentos e análises, estudando a comunidade do ponto de vista de sua situação pessoal e profissional;
c) realizando reuniões com outras organizações comunitárias, para discussão e intercâmbio de idéias.

Num segundo momento, observada a Declaração da Comissão de Legislação de RI, de 1.992, a respeito dos Serviços à Comunidade, com sua ação espera-se "conseguir adequado reconhecimento público para seus projetos de Serviços à Comunidade", exercendo uma função catalisadora e transferindo à comunidade ou a outras organizações a responsabilidade pela continuação do projeto, permitindo que o Rotary se envolva em nova atividade.

Assim disposto, os NRDC devem ter por objetivos:

a) encorajar os indivíduos a assumir responsabilidade pela melhoria de sua cidade, bairro ou comunidade;
b) reconhecer o valor e a dignidade de todas as profissões úteis;
c) promover a auto-ajuda através da ação individual e coletiva;
d) encorajar o desenvolvimento do potencial humano na sua plenitude, dentro do contexto da cultura e da comunidade local.

Para tanto, cada Núcleo deve consistir de pelo menos 10 (dez) pessoas, maiores de idade, sem discriminação de sexo, de caráter ilibado e com potencial de liderança, que residam, trabalhem ou estudem nos bairros ou comunidades abrangidos pelo Núcleo.

Para funcionar, o núcleo depende de autorização e reconhecimento de RI, mediante o endosso do governador do distrito, e pode ser patrocinado por um ou mais Rotary Clubs. Estes serão sempre responsáveis pela organização, orientação e apoio ao mesmo núcleo.

Cada núcleo deverá elaborar seus próprios estatutos, observadas as normas e os regulamentos prescritos por RI, devidamente aprovados pelo RC patrocinador e poderão adotar a denominação "Núcleo Rotary de Desenvolvimento Comunitário" ou, se preferir, "Núcleo Rotary de Trabalho Comunitário", devendo sempre acrescentar, em suas comunicações, que "são patrocinados pelo Rotary Club de (nome do clube patrocinador)". Os membros do núcleo não são sócios e não devem ser considerados como rotarianos associados ou iniciantes. .

O núcleo poderá adotar um emblema próprio que será de uso e benefício exclusivo de seus membros, exibindo-o sempre de forma digna e apropriada, direito esse revogável ou pelo desligamento do membro ou pela desativação do núcleo.

A desativação de um núcleo poderá acontecer: a) pelo RI, quando ocorrer inabilidade do mesmo de funcionar de acordo com as normas estabelecidas para os núcleos ou por qualquer outro motivo; b) pelo Rotary Club patrocinador, mediante abandono do patrocínio; c) pelos próprios membros, por sua vontade e determinação.

As atividades dos NRDC serão decididas pelos próprios membros da comunidade, com a respectiva aprovação do clube patrocinador, de acordo com as normas prescritas pelo respectivo Conselho Diretor para atividades e projetos de prestação de serviços do clube.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

O Presidente Jonatham Majiyagbe nos ensina que devemos ESTENDER AS MÃOS a quem delas necessitam. Este lema tem muito a ver com os objetivos da Avenida de Serviços à Comunidade e, sobretudo, com os Núcleos Rotary de Desenvolvimento Comunitário. Através deles estamos assumindo o papel de patronos da realização do bem estar social através do envolvimento público na consecução do bem comum. Tarefa própria de uma sociedade do futuro.

Em um exaustivo e bem elaborado trabalho de capa da Revista Rotária de Novembro de 1.999, nº 929, J. Cimino, companheiro do RC de Barbacena, MG (D 4.580), foi enfático em afirmar que chegou a “hora e a vez de ações solidárias”, e que o “Rotary deve estar sempre sintonizado com as necessidades históricas do momento”.

Com um percuciente poder de síntese, esse analista da realidade chega a seguintes reflexões:

“Se os efeitos nefandos da crise econômica – desemprego, fome, déficit habitacional, violência, alto índice de mortalidade infantil e outros, nós os sentimos na comunidade histórica em que vivemos, por outro lado é também nela que vamos encontrar solução para superá-los.”
“O Governo é uma realidade extremamente distante da comunidade. Não podemos ficar de braços cruzados e alienar nossa responsabilidade, esperando que tudo venha lá de cima. Os tempos demandam ações rápidas.”

“Antes de tudo é preciso acreditar na comunidade. Não, porque ela é um manancial de energias latentes, à espera de alguém que as acorde. O despertar de tais energias será conseqüência de forte exercício de liderança. Quando tal acontece, horizontes amplos começam a se abrir aos olhos de todos, que passam a vislumbrar a possibilidade de partir para a “aventura” do seu próprio desenvolvimento. Trata-se realmente de uma aventura, porque implica quebra de hábitos de acomodação com o status quo e de um voluntarioso rompimento com a letargia de um quotidiano sem perspectiva”.

Ora, sem o afirmar, e talvez o desconhecendo, o autor supra fez uma perfeita, acabada e fiel descrição do que seja e para que servem os Núcleos Rotary de Desenvolvimento Comunitário.

Os instrumentos nós os temos, a vontade de Servir e de fazer o Bem nós a levamos conosco e a acalentamos durante toda nossa vida rotária, o que é que nos está faltando para abraçarmos esse programa como nossa missão, a se somar à visão e ao poder de Rotary para uma sociedade universalmente justa e feliz no século XXI?
Publicado na Revita "Brasil Rotário", Artigo de Capa, fevereiro/2004