Nesta última sexta-feira,
26 (setembro, 2014), estava eu na Beneficência Portuguesa, atendido por uma gentil
recepcionista, com o objetivo de marcação de um exame ecocardiográfico, quando,
ao ouvir o meu nome, ela se mostrou surpresa e sussurrou: --“Vivanco
Solano, eu moro numa rua com esse nome...”.
Eu, então, informei: --“José Vivanco Solano, no Parque Novo Mundo... é o
nome de meu tio, irmão de meu pai”. Interessante observar a reação das pessoas.
A minha interlocutora pareceu que estava falando com uma celebridade, por eu
ser parente daquele que dava nome a rua em que morou... Eu, então, expliquei. Trata-se de um
Expedicionário que marchou junto aos Voluntários da Pátria na formação do
primeiro Esquadrão de brasileiros que foram se juntar as forças armadas que
combatiam na Europa contra o Nazismo. E, ao morrer, depois de participar das
campanhas heroicas em que a FEB - Força Expedicionária Brasileira se destacou na tomada de Monte Castelo e
outros pontos estratégicos para a vitória das forças aliadas, IN
MEMORIAM recebeu várias homenagens póstumas, como herói da Pátria.
Veio-me, então, a lembrança de mais um daqueles momentos que nos dão prazer e
saudade e que são apropriados para que constem de nossas Rememórias. Lembro-me,
apesar da tenra idade (tinha eu pouco mais de 3 anos), da última vez em que vi
o meu tio. Ele tinha se alistado no 6º Batalhão de Infantaria - também
conhecido como Regimento Ipiranga - localizado em Caçapava (SP), e que se
constituiu no primeiro Esquadrão a embarcar para o campo de batalha, e viera a
casa de meus pais para a despedida. Tiramos algumas fotos, principalmente uma
em que eu me encontro sobre seu ombro, e eu tenho a nítida lembrança dele vir
se despedir de mim quando eu brincava em meu velocípede, na calçada da rua. Lindo,
jovem, galhardamente vestido na farda verde da Infantaria do Exército
Brasileiro. Lembro que meu pai, irmão mais velho dos cinco irmãos, sendo aquele
o caçula e não tinha ainda vinte anos quando se alistou, não se
conformava com o fato dele ir para guerra. Segundo minha mãe contava aos
familiares, meu pai, desesperado, queria provocar a decepação de um dedo do meu
tio, aquele apropriado para puxar o gatilho, e forçar sua dispensa. Minha mãe
não concordou e impediu que ele assim fizesse.
Não podemos dizer o que foi melhor, pois o destino traçado para as pessoas é
indecifrável. Sua morte, por ironia do destino, foi acidental. Após participar
das vitórias brasileiras, que ocorreram em setembro de 1944, com a tomada das
localidades de Massarosa, Camaiore e Monte Prano, e até o início do ano
seguinte, da conquista de Monte Castelo e Castelnuovo, no dia 16 de março de
1945, quando faziam a limpeza do campo conquistado em Castelnuovo, sofreu um
acidente, provocado por um disparo feito por um companheiro de armas,
Expedicionário Lellis, que manuseava uma automática “Mauser” retirada de um
oficial alemão aprisionado ou abatido, então. Hoje, além da rua mencionada
acima, no Parque Novo Mundo, meu tio foi homeageado com a dação de seu nome a
uma rua em Sertãozinho, sua cidade natal, e outra em Ribeirão Preto, onde
passou toda sua juventude. Ainda em Ribeirão Preto, existe um Museu da II
Guerra Mundial “José Vivanco Solano”, que guarda objetos, documentos e peças de
vestuário de brasileiros que lutaram pela Força Brasileira na II Guerra
Mundial, um dos fatos históricos mais importantes do século XX. O museu foi
fundado em 1988 e está localizado a Rua da Liberdade, 182, aberto a visitação
pública de 2ª. A 5ª. feira das 8h as 14h30. Remexendo nos pertences que se
encontravam com ele, reenviados ao meu pai quando da comunicação de seu
falecimento, encontrei uma carta, que foi escrita pelo meu tio em 22-1-1945, ou
cerca de 2 (dois) meses antes do trágico acidente, dirigido ao meu pai e onde
destaco a seguinte passagem: “Jacob como vai Tita, e os meus dois sobrinhos? Diga
ao Genesio que Tio Zeca não foi com o Papai Noel porque não coube no saco, mas
que irei”. São essas as rememórias que marcam nossa vida, e nos fazem
refletir a respeito.