quinta-feira, 24 de junho de 2010

CAPÍTULO VI - HISTÓRIA DAS DOUTRINAS DO ESTADO: PERÍODO MODERNO

I - PROLEGÔMENOS:

Para entendermos bem o pensamento que caracterizou o chamado período moderno, temos de fazer uma incursão pelo estudo da história respectiva. Como vimos, por várias razões, o período denominado medieval impôs à cultura um estágio de recolhimento, notadamente monástico, aguardando-se melhores dias para seu desenvolvimento. A Igreja tomou para si o papel de guardiã dessa cultura e, ao mesmo tempo, se impôs do poder que a Igreja passou a representar, a par das ambições de um poder temporal caótico e com ela concorrente, não será ridículo afirmar que a própria Igreja corrompeu-se pelo poder, de modo a induzir um descrédito público aos seus apelos. O papel histórico, pois, que a Igreja deveria representar como intermediária da realização da felicidade entre os homens restou um tanto maculado e sua filosofia entrou em hibernação. Daí encontramos, ao início do chamado período moderno, uma perspectiva mental um tanto diferente daquela que marcou a Idade Média, a saber: uma descrente autoridade da Igreja e uma crescente autoridade da ciência. Em razão dessa evolução natural dos conhecimentos humanos a partir de afirmações artísticas e científicas de um Renascimento para a cultura até então estagnada, a estrutura da Igreja se mostrou incapaz de renovar-se a ponto de acompanhar as novas necessidades filosóficas. A cultura desse período volta a ser, então, mais leiga do que clerical e, o Estado, passa a substituir cada vez mais a Igreja como autoridade governamental que controla a cultura. É a época da irrupção das idéias de Copérnico (1543), aperfeiçoadas por KEPLER e GALILEU no século XVII. É a época da grande luta entre a ciência e o dogma religioso. É o Renascimento.

O Renascimento. - Após a queda do império romano, a Itália se encontrava fragmentada em diversas “civitas”, ou mesmo, cidades-Estado. Podemos destacar as cinco mais importantes: Milão, Veneza, Florença, o Domínio Papal e Nápoles. Tais entidades políticas rivalizavam entre si em importância na política italiana, de modo a se alternarem quanto ao domínio do poder, o qual se relacionava com a expressão que assumissem em relação à cultura e às artes da época. A par de tudo, o poder papal rivalizante. O jogo do poder político na Itália, como nos demonstra BERTRAND RUSSELL, era incrivelmente complexo. Os príncipes menores, em sua maioria tiranos elevados ao poder por si próprios, aliavam-se ora com um dos Estados mais importantes, ora com outro: se não fossem hábeis no jogo, eram exterminados. Havia, pois, guerras constantes e, quase sempre, incruentas.

Por isso tudo, a Renascença não foi um período de grandes realizações na filosofia, mas, como nos informa o já citado BERTAND RUSSELL, fez certas coisas que constituíram os preliminares essenciais para a grandeza do século XVII. E isso porque acabou com o rígido sistema escolástico, que se havia convertido numa camisa de força intelectual.

Nenhum comentário:

Postar um comentário